segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Uso indiscriminado: mulheres são as mais adeptas da automedicação no Brasil

Associações com outros medicamentos ou alimentos pode ser fatal


Tratar da saúde por conta própria é uma decisão arriscada e pode ser fatal, afirmam especialistas. Além de todos os danos que uma interação medicamentosa pode causar, como intoxicação e anulação no efeito dos princípios ativos, a automedicação pode tratar os sintomas e mascarar a doença original.

A coordenadora da Comissão de Medicamentos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Leila Beltrami Moreira, lembra que o sucesso no tratamento de qualquer enfermidade depende de vários fatores, que incluem uso de medicamentos, em alguns casos, mas que depende também de um diagnóstico correto.
— Se o paciente tem uma dor e sai tomando o remédio que serve para o vizinho, pode estar perdendo tempo de encontrar a melhor solução para o seu problema — , explica Leila.
O que mais preocupa os profissionais da saúde
1) Uso indiscriminado de paracetamol: a substância, no fígado, é transformada em metabólito intermediário, que pode resultar em lesões hepáticas. Na Grã-Bretanha, uma pesquisa recente evidenciou que ele era o maior causador de transplante de fígado.

2) Associações com outros medicamentos ou alimentos: a melhor forma de tomar o medicamento é com água. Café preto, refrigerante, sucos de frutas e leite podem alterar a composição do medicamento ou o pH (acidez) do trato digestório, onde é absorvido, minimizando ou aumentando os efeitos. Além disso, muitos remédios interferem na ação do outro, podendo bloquear ou causar uma intoxicação.

3) Uso de medicamentos para qualquer problema: o remédio só deve ser administrado em último caso. O colesterol é um bom exemplo. Só se começa a administração da substância quando já se tentou regular com dieta e exercícios físicos.

Combinações explosivas
:: Amoxicilina (antibiótico) + anticoncepcional oral = risco de gravidez indesejada.

:: Diurético + lítio (estabilizador de humor usado para tratar transtorno bipolar) = potencializa os efeitos adversos do lítio, podendo causar náuseas, fraqueza muscular, tremores, vômitos, perda de função renal, alteração da função da tireoide e confusão mental.

:: Aspirina + anticoagulantes orais = aumenta o risco de sangramento, podendo levar à hemorragia.

:: Omeprazol (antiácido) + Varfarina (anticoagulante): o primeiro aumenta a concentração sanguínea da varfarina, podendo causar hemorragia.

:: Captopril (anti-hipertensivo) + sucos = absorção prejudicada.

:: Tetraciclina antibiótico + leite ou antiácidos = o leite tem cálcio que, associado ao antibiótico, pode anular o efeito do medicamento.

:: Dexametasona Oral (corticoide, antiinflamatório) + medicamentos para o diabetes = a dexametasona aumenta a glicemia, ou seja, eleva o açúcar no sangue.

:: Paracetamol + diclofenaco, nimesulida (antiinflamatório) = pode potencializar ou agravar doenças hepáticas e renais.
Fontes: professora da Faculdade de Farmácia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Flávia Valladão Thiesen, coordenadora da Comissão de Medicamentos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Leila Beltrami Moreira, chefe das Emergências da Santa Casa de Porto Alegre, Leonardo Fernandez.
Mal necessário?
O farmacêutico-fiscal do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul, Éverton Borges, acredita ser fundamental um investimento na qualificação do farmacêutico. Afinal, diz ele, nem sempre é possível esperar pela data da consulta clínica, principalmente no sistema público de saúde. E aí entra o farmacêutico:

— O paciente precisa do máximo de informações sobre aquele medicamento antes de tomá-lo. Cabe ao farmacêutico dar todas os subsídios para que o cliente possa optar pela forma mais segura.
Conforme os manuais médicos americanos, de 10% a 20% das internações hospitalares nos Estados Unidos são em decorrência de reações adversas a medicamentos, que podem ser naturais ou por administração indevida.

— No Brasil, as mulheres praticam mais frequentemente a automedicação do que os homens, com um percentual de 59% contra 41% — explica Flávio André Cardona Alves, médico intensivista e Coordenador da Área Clínica da Emergência do Hospital Moinhos de Vento.
Os efeitos adversos mais comuns da prática de escolher o próprio tratamento são os gastrointestinais, como náusea, vômito e diarreia. Os psicoativos podem dar sonolência e a causar a perda dos reflexos. A maior parte pode provocar alergias na pele.
— Todo tipo de substância utilizada para tratar um determinado problema pode ter efeitos que não são os esperados ou os desejados. Quanto mais adequada for a indicação de determinado fármaco, menores as possibilidades de risco, mas eles sempre poderão existir— , explica o chefe de emergências Leonardo Fernandez.
Apesar dos riscos, Alves lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que, algumas vezes, a automedicação pode ser benéfica:

— Se considerarmos países com sistemas de saúde ineficientes, em que as pessoas têm de aguardar várias horas ou até dias para serem atendidas, o uso sem prescrição médica de um antibiótico para uma infecção, que teria consequências graves, pode ser justificável.
O que não fazer:
Antibióticos: O uso indiscriminado pode causar resistência antimicrobiana, levando a maior dificuldade de tratar infecções atuais e futuras.
Antiinflamatórios: Aumentam a produção de ácido clorídrico e reduzem a de muco, que protege o estômago. Se o paciente já tem gastrite ou úlcera, pode causar sangramento. O abuso pode provocar insuficiência renal.
Remédios para emagrecer: Hipertensos não devem tomar, pois aumentam a pressão arterial.
Relaxantes musculares: Provocam sonolência. É preciso evitar ao praticar atividades que exijam atenção.
Fitoterápicos: Também podem oferecer riscos com superdosagem e interferir no efeito de outros medicamentos.
Ansiolíticos: Seu uso crônico causa dificuldade de concentração e raciocínio, além de dependência.
Saiba mais
— A cada 20 dias, um novo medicamento entra no mercado.
— O Brasil está entre os cinco maiores consumidores de medicamentos no mundo.
—  Os gastos com medicamentos representam 12% do orçamento familiar.
—  Somente 50 % dos pacientes, em média, tomam corretamente seus medicamentos.

FONTE: Zero Hora

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