terça-feira, 2 de novembro de 2010

Como as doenças são fabricadas (ou, como a indústria farmacêutica inventa doenças para aumentar seus lucros)

Um dos aforismas médicos mais significativos para quem trabalha com uma perspectiva sistêmica e complexa do processo saúde-doença afirma que "não existem doenças e sim doentes"...A analogia deste pensamento foi muito bem elaborada por Cipolle em 1985, quando o mesmo afirma que "medicamentos não têm doses...pessoas tem doses!"
Realmente é interessante e instigante perceber a doença como algo mais do que um conjunto de alterações e manifestações de ordem biológica...O processo saúde-doença é complexo, corresponde também a uma construção de ordem social e cultural e está sujeita a muitos fatores, entre os quais o interesse econômico.
Recomendo uma leitura do excelente comentário de Ray Moynihan, que foi publicado esta semana no BMJ. Sob o título "Merging of marketing and medical science: female sexual dysfunction" (Merging of marketing and medical science: female sexual dysfunction. BMJ 2010; 341:c5050 doi: 10.1136/bmj.c5050 http://www.bmj.com/content/341/bmj.c5050 Monyhan faz uma análise bem crítica e reveladora das estratégias da industria farmacêutica e sua influência na construção de um "novo" tipo de "doença" a disfunção sexual feminina. O autor revela como são articuladas ações visando a formação da opinião pública e dos médicos, favorecendo a medicalização da sexualidade, apresentando um lado obscuro de como interesses econômicos podem ser usados para "comprar" a consciência e "manipular" o conhecimento ciêntifico em favor da "criação" de "novas doenças" como forma de aumentar suas vendas e expandir os lucros das grandes indústrias farmacêuticas. Chocante, mas não é uma novidade...talvez seja para quem ainda acredita na neutralidade científica ou no coelhinho da páscoa.

FONTE: http://farmaciaclinicaefarmacoterapia.blogspot.com/

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