sábado, 13 de março de 2010

Roche pagou para Jornalistas viagem a seminário que promoveu Tamiflu

Atualizado em 11 de março de 2010 às 23:00 | Publicado em 10 de março de 2010 às 17:29
por Conceição Lemes*

O Ministério da Saúde informa: até 21 de maio, o Brasil deverá vacinar pelo menos 80% das 91 milhões de pessoas que devem ser imunizadas contra influenza A, ou gripe A (H1N1), mais conhecida como gripe suína.
São grupos prioritários: trabalhadores da área de saúde, indígenas, grávidas em qualquer período de gestação, crianças, adolescentes e adultos com obesidade grau 3 (antigamente chamada obesidade mórbida), pessoas com doenças crônicas, crianças de seis meses a menos de dois anos, idosos (com mais de 60 anos) portadores de doenças crônicas e adultos saudáveis de 20 a 39 anos.
Grupos prioritários são aqueles que têm maior risco de desenvolver formas graves da doença e de morrer. A prioridade dos trabalhadores de saúde é porque deles dependem todas as estratégias de combate da segunda onda de pandemia da gripe suína.
Adicionalmente, o Viomundo recomenda mais uma “vacina”: é contra eventuais “surtos” de má fé e/ou de desinformação de parte da mídia, a exemplo do ocorreu em 2009. Indicamos aos 197 milhões de brasileiros, pois “os surtos midiáticos” também podem causar danos à saúde, eventualmente até matar.
CRIME CONTRA A SAÚDE PUBLICA BRASILEIRA
Em 24 de abril de 2009, foi manchete no mundo inteiro: a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta sobre a ocorrência de um novo tipo de gripe, causada por uma variante do vírus da influenza suína A H1N1. Testes laboratoriais haviam confirmado casos da infecção em seres humanos nos Estados Unidos e no México.
Em 11 de junho, a OMS declarou pandemia de gripe suína. O vírus A H1N1 já circulava na Europa, Austrália, América do Norte, Central e do Sul. No Brasil, dos 52 casos confirmados até então, 75% tinham sido adquiridos fora do país.
Em vez de informar a população, parte da mídia brasileira passou a disseminar o pânico. Em 19 de julho, reportagem da Folha de S. Paulo dizia que a gripe suína poderia atingir entre 35 milhões e 67 milhões de brasileiros ao longo das cinco a oito semanas seguintes.
Matéria totalmente furada e irresponsável. Um crime contra a saúde pública brasileira com o objetivo político de atingir o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva em benefício do governador José Serra, de São Paulo, candidato da Folha para presidente em 2010.
Em agosto, alguns “especialistas” e outros desinformados e/ou mal-intencionados reforçaram o terrorismo midiático, disseminando-o nos jornais, nas revistas Época e IstoÉ, nos noticiários de rádios e TV. Exigiram, inclusive via Justiça, que o Ministério da Saúde fornecesse o antiviral Tamiflu (oseltamivir é o nome da droga) a todas as pessoas com sintomas gripais. Um absurdo.
Curiosamente, no início de setembro de 2009, a Roche, fabricante do Tamiflu, único medicamento disponível no Brasil contra a gripe suína até então, patrocinou a ida de quatro jornalistas brasileiros a uma conferência na Basiléia, Suíça, onde fica a sua sede.
A David Reddy, líder da força-tarefa da multinacional farmacêutica contra a pandemia da gripe A, coube a atualização científica sobre o antiviral. Entre os dados apresentados, estes sobre a eficácia do Tamiflu na gripe sazonal, comum.
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Ao contrário do que induzia a apresentação, não há indicação de uso do Tamiflu para prevenir a ocorrência de gripe na população.
Quanto à sua eficácia no tratamento da doença, o laboratório recorreu apenas a publicações antigas, cujos resultados lhe eram mais favoráveis. Deixou de alertar os jornalistas que estudos publicados em agosto de 2009 pelas conceituadas revistas Lancet e British Medical demonstraram, por exemplo, que o oseltamivir reduz a duração dos sintomas da gripe comum em algo próximo a 0,5 dia e não em até dois dias, como alguns especialistas diziam. A Roche também omitiu que o Tamiflu não é eficaz quando usado em pacientes com síndrome gripal sem fatores de risco. E que o seu uso generalizado aumenta o risco de o vírus desenvolver resistência ao medicamento.
Tatiana Pronin, do UOL, esteve lá. Em reportagem veiculada no dia 7 de setembro, informou:
 Em situações de pandemia como a da gripe suína, ou influenza A (H1N1), a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que um país tenha medicamento suficiente para tratar pelo menos 25% da população. No Brasil, porém, os estoques disponíveis até agora dariam para suprir apenas 5% dos brasileiros. A informação foi divulgada pela fabricante do antigripal Tamiflu (oseltamivir), a Roche, em uma conferência internacional organizada pela empresa nesta segunda-feira (7) na Basileia, na Suíça, onde fica a sede do laboratório.
O texto do UOL reforça:
"A OMS diz que o estoque deve ser de aproximadamente 25%...", comentou David Reddy.
A OMS desmentiu a história dos 25%. “A quantidade do antiviral dependerá da proporção da população em risco de desenvolver as formas graves da doença e da disseminação do vírus A (H1N1) ao longo do tempo”, disse ao Viomundo Aphaluck Bhatiasevi, do escritório de comunicação da OMS, em Genebra, Suíça. “A OMS recomenda que cada país avalie as suas necessidades com base nos respectivos planos para enfrentar a pandemia.”
Também na Suíça, contatamos David Reddy, para saber se ele confirmava a declaração ao UOL. “Não”, respondeu por e-mail. “O que foi dito era que algumas estimativas iniciais indicavam que ao redor de 25% das pessoas poderiam ser infectadas durante a pandemia. Essa foi a base dos 25%. Porém,  aí, entra outro fator: o quão virulento é o vírus e quantas pessoas precisam ser tratadas. São decisões que o próprio governo tem de tomar.”
Notem que o representante da Roche cita “algumas estimativas” de que aproximadamente 25% das pessoas “poderiam ser infectadas” e que isso ocorreria “durante a pandemia”, que dura até hoje. Observem ainda que, implicitamente, nas entrelinhas, ele diz que nem todas precisam de tratamento.
“Então o UOL errou?”, questionamos a Roche no Brasil. “Por que vocês não distribuíram um comunicado dizendo que a informação era equivocada?”
Foram várias tentativas na ocasião e tempos depois. A assessoria de imprensa nunca respondeu essas questões, dando margem a esta incerteza: o UOL se equivocara ou  David Reddy dissera mesmo à repórter que para a OMS seria necessário ter em estoque tratamento para, pelo menos, de 25% da população e depois voltou atrás?
A essa dúvida somaram-se outras duas perguntas também não respondidas pela assessoria de imprensa do laboratório. Qual o objetivo da Roche em levar jornalistas brasileiros para um evento que não apresentou nenhuma novidade científica? Afinal, o único fato novo foi o ranking dos países que tinham em estoque tratamentos de antivirais para mais de 5% da população. O Brasil, na tabela apresentada, aparecia na rabeira. Entre os 45 países listados, o Brasil era o 45º. A intenção da Roche ao divulgar o ranking seria forçar os países a fazer novas encomendas, garantindo vendas futuras?
Fazer política partidária ou lobby econômico com notícias de saúde tem “efeitos colaterais”. Lembrem-se da epidemia midiática de febre amarela de 2008. Milhares e milhares de pessoas vacinaram-se desnecessariamente. A vacina tinha contraindicações.  Várias acabaram hospitalizadas. Duas morreram.
Portanto, se alguma notícia na mídia sobre gripe suína, vacinação e tratamento, te deixou preocupado, ligue gratuitamente para o Disque Saúde, do Ministério da Saúde (0800 61 1997) ou acesse os sites www.saude.gov.br e www.vacinacaoinfluenza.com.br
Vacine-se já contra os “surtos” midiáticos de gripe suína. Afinal, quanto mais prevenção mais proteção.
*É a jornalista mais premiada em temas de Saúde no Brasil

Fonte: viomundo

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